A nossa página do “Sábio Orientador” recebe dezenas de perguntas todos os dias e, embora seja uma sessão de humor com o intuito de apenas divertir, torna-se muitas vezes uma oportunidade de desabafo aos pós-graduandos que navegam pelo nosso site.

Como bom aluno de pós-graduação, não consegui olhar para um conjunto considerável de dados brutos sem pensar em uma análise estatística que permitisse alguma discussão.

[Hábito é uma coisa incrível, não?]

Levando em consideração todas as perguntas recebidas pelo site e não apenas as publicadas, uma vez que dificilmente será publicada uma pergunta repetida, [afinal de contas, piada repetida não tem graça] cerca de 70% das perguntas possuíam como tema críticas ou reclamações sobre seus orientadores, podendo ser agrupadas em duas categorias principais:

1. Reclamações sobre falta de disponibilidade de tempo dos orientadores para responder e-mails, corrigir capítulos, tirar dúvidas ou ter uma boa conversa.

2. Falta de interesse pelo projeto ou pela orientação e domínio limitado do tema da pesquisa.

Orientação é preciso
A orientação possui papel fundamental na vida acadêmica dos alunos universitários em geral. Além de servir como guia para uma área do conhecimento completamente nova para o estudante em orientação, existe toda uma parte burocrática, relativa a bolsas, relatórios, correções de publicações e declarações, cuja dependência do orientador é total.

Tamanha é a importância dos orientadores na vida dos alunos de graduação e pós-graduação que em muitos laboratórios e departamentos por aí os orientadores são carinhosamente chamados de “pai” ou “mãe” por seus orientados. E com certeza a comparação faz todo o sentido.

Entretanto, erga a mão para os céus quem nunca esperou por dias uma resposta do seu orientador para um e-mail ou de uma dúvida. Ou então os felizardos que nunca tomaram um “chá-de-cadeira”, esperando para ter alguns minutos da atenção do orientador. Sem falar naquele artigo que está esperando o “ok” do orientador desde que o mundo é mundo.

Outro lado
O que poucos alunos levam em consideração é que a grande maioria dos professores se dedica a uma jornada de trabalho maior do que a contratada. Se você quiser encontrar meus orientadores da graduação ou da pós-graduação em um sábado de manhã, por exemplo, deve procurá-los em suas salas na faculdade.

E não é atoa. Aulas na graduação, aulas na pós-graduação, orientados de iniciação científica, orientados de mestrado, orientados de doutorado, “publicar ou perecer”, relatórios dos financiamentos das pesquisas, trabalhos e provas para corrigir, sem falar nos cargos administrativos, que de vez em sempre os professores são obrigados a assumir e que demandam um tempo considerável.

Sei que pode ser um choque na vida de alguns alunos, mas chega uma hora em que eles precisam ouvir isso de alguém: seu orientador faz outras coisas na vida além de orientar você. E no doutorado espera-se que essa relação de dependência do orientador seja ainda menor, visto que um dos objetivos do curso de doutorado é justamente formar “pesquisadores independentes”.

Motivação é fundamental
Por outro lado, o aluno não pode ser penalizado por um erro que não é seu. Mesmo que o nosso atual sistema de ensino universitário sobrecarregue os professores, a oportunidade do aluno de fazer um bom mestrado ou doutorado é uma só. Se as dificuldades descritas no primeiro grupo de desabafos citado no começo do texto são perfeitamente compreensíveis, os problemas descritos no segundo grupo com certeza não são.

Sempre que vejo um aluno ser reprovado em uma banca me pergunto onde estava o orientador que não impediu esse desastre. Sim, porque o fracasso na banca é tanto do aluno quanto do orientador. Não que os orientadores devam exercer também o papel de vigia sobre o andamento do projeto, ou de cobrador. O interesse maior em concluir o curso sempre deve ser do aluno. Mas motivar o aluno a dedicar-se à sua pesquisa é um dos quesitos fundamentais da orientação. E um aluno motivado é capaz de maravilhas!

O fato é que praticamente não existe preparo para a orientação acadêmica. Poucos são os momentos da formação de um professor em que a orientação é colocada em discussão. E essa história de que só se aprende a orientar na prática é conversinha para boi dormir. Existe um sem-número de técnicas pedagógicas solenemente desconhecidas pelos orientadores que poderiam auxiliar muito nessa árdua e importante tarefa de guiar um aluno pelos caminhos da pesquisa científica.

E quem sabe, de quebra, reduzir o número de perguntas repetidas enviadas ao nosso Sábio Orientador.