Ontem assisti a uma palestra no Instituto de Química da UNESP de Araraquara (IQ), proferida pelo professor Aldo Craievich, sobre os 100 anos do uso de difração de raios-x, que será comemorado em 2015, em razão do prêmio Nobel recebido por William H. Bragg e seu filho William L. Bragg em 1915. A palestra marcava a aula inaugural do programa de pós-graduação em química do IQ.

Professor Aldo é um argentino, tem seus setenta e … anos, nos anos 70 foi professor no Instituto de Física e Química da  USP/São Carlos, trabalhou ativamente na implementação do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, localizado em Campinas e atualmente é Professor Sênior do Instituto de Física da USP/São Paulo. Sua contribuição científica está presente em mais de 200 artigos, palestras, conferências e capítulos de livros.

Mas porque essa introdução enfatizando currículo do Professor Aldo? É que para atingir meu objetivo deste texto ela se faz necessária. O que vemos todos os dias no mundo acadêmico é um grande jogo egocêntrico, praticado por alunos, professores, doutores e pesquisadores, atolados na soberba em busca de uma revista com grande fator de impacto, o santo graal da ciência. Benefícios para a sociedade? Pouco importa se um dia essas pesquisas sairão das prateleiras da biblioteca para a prateleira das pessoas, o que importa são títulos, artigos e mais artigos, citações, e todo o resto de blá blá blá que envolvem essa história.

Eis que então surge a palestra de ontem, sim voltemos a ela, uma palestra ligth, cheia de histórias e risadas, contando a história dos raios-x, sem aquela coisa carrancuda da ciência. Conforme a palestra evoluía através dos fatos marcantes, o professor Aldo ia dando alguns toques:

“olha esse paper, ele tem 2 páginas, para você ganhar um prêmio Nobel isso é suficiente, não precisa escrever 15 páginas, até porque as vezes as 15 páginas não dizem nada”

“quando rirem do seu trabalho ou disserem para desistir, mantenha-se firme”, porque um cientista chamado Daniel Schechtman propôs na década de 80 a existência de quase-cristais, sua proposta foi recebida com ceticismo e desdenhada pela comunidade científica com a frase: “quase-cristais não existem, o que existem são quase-cientistas”, Schechtman foi laureado com prêmio Nobel em 2011 após comprovar a existência do material que havia proposto.

E esse clima descontraído seguiu por toda a palestra, sem a arrogância da autocitação, sem a exacerbação do eu, sem se divulgar. Poderíamos ficar ali por horas ouvindo aquelas histórias, um raio-x da ciência. Saí daquele anfiteatro com a sensação de que se tivéssemos 10 Aldo Craievich por universidade a coisa poderia ser bem diferente.

Obs: a figura utilizada nesse texto é referente à primeira radiografia do mundo,  publicada Wilhelm Roentgen em  1895 utilizando a mão de sua esposa e seu anel de casamento. Esse feito lhe rendeu o prêmio Nobel em 1901.