“Estou ocupado”, “está a maior correria”, “não vai dar tempo”: qual dessas frases você já ouviu ou já usou só nessa semana?
A vida de pós-graduando é abarrotada de mil afazeres e isso não é novidade para ninguém. Quando você percebe que está sempre ocupado, não tem tempo para mais nada e só vive em função da sua dissertação ou tese, aí é hora de começar a se preocupar.
Aprender a aproveitar o tempo da maneira correta é fundamental para levar uma vida minimamente saudável. Inclusive aqui mesmo no Pós-Graduando já tivemos excelentes colaborações sobre quais são os maiores “inimigos do tempo“, como organizar o tempo em ciclos fechados e como usar a técnica Pomodoro.
Mas, quando você se flagra reciclando cada migalha de minutos que se espalha ao longo do dia, verifique se você não está cedendo ao “culto à correria“.
Culto à correria
Em breves palavras, o Culto à Correria é essa religião não-oficial que prega que ser alguém ocupado demais é algo positivo. Pode parecer estranho, mas cada vez mais seguidores se convertem a esse culto sem sequer perceber! Se você está fazendo uma careta agora e acha que nunca viu isso na frente, dá uma olhada no seguinte trecho de um post (muito bom, aliás!) aqui do Pós-Graduando sobre o mesmo tema:
Esses dias, pedi uma sugestão por e-mail para uma amiga que mora longe, ela foi me retornar semanas depois e pediu desculpas, mas que estava com a agenda cheia, muitos compromissos, leituras, jantas, conferências, trabalho, estudo. Nosssssa fiquei até com ciúme de tal ocupação. Refleti, e quase me senti uma inútil perto da agenda dessa minha amiga.
Agora leia com atenção e reflita comigo: você acha que a “ocupação” é algo digno causar ciúmes em alguém? Você também “quase se sente inútil” quando se compara com uma pessoa de agenda lotada? Você acha válido deixar uma amiga ou um amigo esperando uma resposta por várias semanas e depois vir com a desculpa de que estava correndo demais?
Se a tua resposta é sim, então provavelmente você é um adepto do Culto à Correria e não percebeu ainda.
Sem maiores rodeios, é essa a raiz do problema. Estar sempre ocupado não te faz alguém mais importante, mais merecedor de admiração ou com mais méritos do que ninguém, apesar da nossa forte tendência a crer que sim. Entulhar a agenda com afazeres supostamente inadiáveis às vezes é uma estratégia para convencer a nós mesmos de que somos úteis, produtivos e indispensáveis.
Lutando com espantalhos
Esse é um dogma inviolável do Culto à Correria: lutar sempre. Suar e sacrificar-se na eterna corrida contra a Correria nem que, para isso, seja preciso forjar inimigos inofensivos como espantalhos.
Na falta de alguma tarefa realmente indispensável, a pessoa começa a montar espantalhos, colocar na frente de si mesmo e depois destruí-los só para mostrar para todo mundo o quanto é alguém esforçado e batalhador,
Quando outra pessoa pede algum favor ou escreve uma mensagem, a resposta já está pronta e é mais do que óbvia: “estou ocupado”. “Só na correria”. “Tenho um monte de coisas para fazer”
O pretexto é conveniente e até que razoável. Afinal de contas, perdoamos uma colega ou um amigo que recusou um convite por ter tarefas demais – mesmo que não saibamos bem o quão necessárias elas são de fato. Mas jamais admitiríamos ouvir um “não” por que a pessoa simplesmente arranjou algo mais interessante.
Além da autopromoção implícita, manter-se permanentemente ocupado é também um mecanismo inconsciente de autossabotagem. Criamos pequenas tarefas desimportantes para desviar nossa atenção das tarefas grandes e importantes. Ao invés de respirarmos fundo para combater nossos dragões, continuamos a nos digladiar com inimigos de palha plantados no chão.
A imagem é clara o suficiente: em boa parte dos casos, esses espantalhos não são urgentes, não representam grande ameaça e geralmente têm pouco impacto na dinâmica geral da agenda.
Lembra daquele artigo que você revisou quarenta vezes caçando erros ortográficos? Ou então aquele seu colega que insiste em inserir informações secundárias totalmente irrelevantes na apresentação do seminário? Pois bem, ficar encerando o trabalho ou catando pelo em ovo é um hábito de quem quer sempre se manter ocupado batendo em espantalhos.
Toda música tem pausas
Outra característica do Culto à Correria é abarrotar todas as menores pausas do dia com alguma coisa desimportante a fazer. Já é um clichê bem surrado dizer que as pausas também fazem parte da música. Mas ao que parece, muita gente insiste em esquecer isso e continua encaixando compromissos e tarefas nas menores janelas de tempo durante a semana.
Assim como na música, as pausas na agenda também servem para dar inteligibilidade para o que acontece antes e depois delas, ajudam a demarcar limites, indicam onde as ideias começam e terminam. Se você ainda acha que ser uma pessoa “ocupadona” é legal, experimente ouvir uma música que emenda todos fraseados sem nenhum respiro sequer.
É sufocante.
E talvez você esteja fazendo isso com o seu tempo sem perceber.
Medalha de ouro – 100 metros de Correria sem barreiras
Uma frase apócrifa – dessas que correm pelas redes sociais – diz que somos feitos de carne mas temos de viver como se fôssemos de ferro. Não caia nessa. Você é de carne e tem de viver como tal.
Se quiser, você pode tentar forçar a barra, usar “remédios” para ficar acordado estudando, perder sono para terminar de escrever a tese. A escolha é sua e talvez você não se importe. Mas o seu corpo se importa, seu humor se importa, seu peixinho dourado morrendo de fome se importa.
Pode ser que você esteja de fato sobrecarregado. Isso acontece principalmente quando a estrutura do fluxo de trabalho é mal-organizada – o que não é raro no mundo acadêmico.
Em casos como esses, nem a melhor técnica de gestão de tempo pode fazer milagres. Você está imerso na Correria sem fim e isso é um fato inegável. Mas transformar isso em um Culto à Correria é algo bem diferente.
Estar ocupado deveria ser visto como um problema e não como um motivo de orgulho. Não há mérito nenhum em ganhar a medalha de “pessoa mais corrida do ano”. No máximo, estar ocupado demais vai te dar o Grammy da Desorganização ou o Nobel da Procrastinação. E nada mais do que isso.
Toda métrica tem suas falhas
Todo praticante do Culto à Correria se apega a seus rituais de produtividade. As técnicas de gestão do tempo buscam otimizar o uso do tempo dividindo-o em unidades sempre muito bem organizadas. Embora todas elas tenham suas vantagens, elas só funcionam perfeitamente em situações ideais.
Se nós pós-graduandos fôssemos seres puramente racionais, tudo daria certo sem sair do lugar.
Mas, como qualquer pessoa comum, estamos sujeitos a descontroles emocionais, a nossas marés de azar, a acessos inexplicáveis de euforia ou melancolia. Às vezes, pode ser realmente difícil seguir firme na gestão do tempo quando sentimentos como insegurança, medo, ciúmes ou saudades dividem espaço com a sua capacidade de concentração. Às vezes, você apenas se permitiu tomar café em um lugar diferente – e não há nenhum problema nisso.
Quando nos desprendemos da ideia ilusória de que gente ocupada é importante, paramos de tentar reciclar cada minuto livre de nosso dia de maneira excessivamente utilitarista. Fazemos menos, mas fazemos melhor.
Murillo Guilherme A Oliveira leia!
quem está fora não entende de jeito algum
Até eu, que estou nessa vida, pego no pé da minha irmã ( que tb está), pra que ela corra menos!
Isso mesmo, Ana Paula Pires!
Realmente, eu não consigo entender esse culto a correria. Tem gente que adora dizer que está super ocupado, que está ralando e no fundo não produz nada. Já vi gente que fala que eu sou vagabundo, vagal, vida mansa e etc, porque as vezes vou pra piscina, fico sem fazer nada durante a tarde e etc.
E essa pessoa super ocupada que me chama de vagal ? Num período de 3 anos eu tive precisamente dez vezes mais publicações do que ela, mais citações, mais apresentações de trabalho, mais revisões de artigo, etc etc. E o vagabundo sou eu ? Vagabundo é quem trabalha o dia inteiro e não produz nada !
Era tudo que eu precisava ouvir. <3
Esse post veio mesmo a calhar neste momento da minha vida. Estou fazendo mestrado e, como sempre fico com aquela sensação de que “não é um trabalho” (com a qual o bolso vazio colabora), fico sempre tentando me ocupar ao máximo com freelas. No entanto, tenho percebido que não dá pra ter tudo e que não adianta querer virar uma máquina. O tempo continua passando da mesma forma, quer eu esteja ocupada, quer não. Meia hora de pausa, simplesmente sem fazer nada, não acaba com o dia de ninguém. É só mais uma meia hora. É claro que não dá pra cair no outro extremo de fazer mais pausas que horas trabalhadas, mas vocês sabem o que eu quero dizer. Sinto uma necessidade cada vez maior de me desplugar: desligar o celular, o computador, parar de olhar para as horas, e simplesmente seguir o meu ritmo.. Quando o faço, é sempre bem mais produtivo e menos estressante.
Parabéns pelo blog e pelo post! Continuem assim =)
Carolina Fv leia
Muito bom!!
Thamires Mota, sobre o glorification of busy.
Sou mais o Glorification of liberty!
Putz!! E a minha desculpa agora, qual será? kkkkkk
LEIA Suzanne Tavares
Verdade!!!
Polyane Novais Pires
Pós-Graduando, e quando será que teremos novos reajustes nas bolsas? Tudo aumenta! E a bolsa fica defasada!
A bolsa de vcs já caiu esse mês? Pq a minha naaada!!!
Laís, a CNPq caiu.
Capes nada!
Lucas Shimoda, esse texto é maravilhoso! Vou imprimir e distribuir!
Jana, vc deveria estar fazendo bonecos de neve e tomando Glühwein agora, e não lendo coisas de pós-graduando nazinternet!
Este texto foi um belo de um tapa na cara! Por pura desorganização (e também procrastinação) estou aqui no primeiro dia (melhor, quase segundo) de 2015 terminando minha qualificação de Mestrado, depois de um ano “ocupada demais” com trabalho, artigos para fazer e tantas outras coisas. Sem me dar conta, aderi ao “culto à correria”. Adorei o texto, caiu como uma luva! Detesto fazer resoluções de início de ano, mas espero abandonar este culto logo! Parabéns!
Queria ler. Mas estou ocupado demais… =D
Poxa, muito obrigada por esse texto, pelo tempo tão bem empregado em tecê-lo e pela verdade que há em seus fios.
Obrigada mesmo!
Sarah
Legal o texto. Não vou entrar no mérito qualitativo aqui (se eu acho que esse “culto” é bom ou não não importa tanto). Mas precisamos admitir que é fácil entender por que esse culto existe, certo? Todos nós sabemos que pessoas desocupadas trabalham menos; quem trabalha menos geralmente produz menos; pessoas importantes são mais ocupadas; pessoas que realmente gostam daquilo que fazem consideram suas profissões como parte inseparável de suas personalidades. No mundo acadêmico, tudo isso é aumentado. Nenhum professor/pesquisador que se preze iria sentir orgulho de estar desocupado: pessoas que fazer Mestrado e Doutorado e se dedicam à pesquisa fazem isso porque *gostam muito* do que estão fazendo. Logo, para elas, estar ocupado é um sinônimo óbvio de “estar produzindo”. Faz sentido querer estar ocupado? Talvez. Eu gosto de estar ocupado com aquilo que *me dá satisfação*. Em uma situação ideal, o trabalho deveria ser prazeroso (particularmente no mundo acadêmico). Portanto, me parece estranho criticar a vontade de acadêmicos de estarem mais ocupados. Isso é algo simples, não? Vamos a um exemplo concreto: você vai passear na Europa. Seu amigo vai a um congresso na Europa. As duas situações são parecidas, mas para ir passear basta ter dinheiro. Para ir a trabalho, é preciso competência e capacidade. São casos diferentes. Quem não quer estar ocupado com o emprego que escolheu necessariamente não pode querer ser importante ou relevante em sua área. Quem escolheu ser professor universitário mas não quer estar ocupado simplesmente nunca terá prestígio em sua profissão: se você quer ser um profissional sem prestígio em sua área, então adorar estar desocupado é compreensível. Qualidade profissional vem com trabalho, e trabalho exige tempo e disciplina. Portanto, se no Brasil há um “culto à ocupação”, eu ficaria feliz—porque o sistema acadêmico brasileiro está cheio de cultos infinitamente piores do que este.
Perfeita a sua análise, acho que o problema que o texto levanta é justo, mas num país onde praticamente o que existe é a cultura da “desocupação” a contribuição do texto na verdade é negativa.
Parabéns pelo post! Compartilho o sentimento…
Considerando o fato de ele estar falando para uma comunidade que estar o tempo todo sempre “ocupada”, acho o texto pertinente. Acho que o país tem uma cultura de desocupação sim e infelizmente grande parte da população brasileira parece querer tudo muito ” fácil” , sem muito esforço. Nossa política alimenta isso. Os que querem sair desse “lugar comum”, acabam se sobrecarregando, talvez até mesmo pra mostrarem que são diferentes, que trabalham, que lutam, enfim. Eu mesma já fiquei muito sobrecarregada. Sem ânimo e tempo para nada. No final percebi que a vida estava passando e a minha saúde e o meu lazer estavam ficando de lado. Gosto de pensar no ditado que diz ” trabalhar para viver e não viver para trabalhar”. Esse está sendo o meu lema. Afinal, qual sentido de obter tanta riqueza e tantos títulos se não posso usufruir de quase nada que eles me proporcionam? No meu entendimento, não tem sentido.
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