Desde a Europa medieval, a Universidade é ,ou pelo menos deveria ser, um espaço de circulação, renovação e aprimoramento dos saberes, um ciclo infinito em busca do conhecimento. É neste espaço que vários indivíduos se reúnem para trocarem os saberes adquiridos cientifica ou empiricamente ao longo de suas vidas.

É, portanto, sobretudo, um ambiente de livre debate de ideias, pensamentos e teorias, onde cada sujeito expõe suas perspectivas teóricas em um confronto harmonioso com as perspectivas dos demais, independente da posição hierárquica ocupada no templo do saber. Tais confrontos, já começam a se delinear na Graduação, mas é na Pós-Graduação, que eles se tornam mais evidentes e constantes. Mas nem sempre harmoniosos e pacíficos.

Saímos da Graduação sem saber absolutamente nada e entramos na Pós-Graduação achando que sabemos praticamente tudo, e com nossas escolhas teóricas muito bem definidas, mesmo sem nem conhecer as opções existentes. As aulas vão passando, os dias também, e a cada encontro com os professores e colegas vamos percebendo que não é bem assim, que existe uma infinidade de direcionamentos teóricos e que cada um deles exige um amadurecimento teórico (e também pessoal) que só se conquista com anos de estudo e dedicação. Mas não entendemos isso de primeira e partimos para os combates com toda força e emoção que a juventude nos reserva.

As primeiras discussões são acirradas e saímos da aula como se tivéssemos enfrentado a mais violenta luta para defender nossas preferências teóricas que se tornam quase ideais de vida. Você se coloca, o professor rebate, você contra-ataca, a turma defende, você insiste, o professor se arma, você baixa a guarda, a turma arrebata a discussão e você se sente como um lutador nocauteado com uma torcida inteira feliz ao seu redor, feliz com a sua derrota.

E assim são as primeiras discussões sobre teorias no universo da Pós-Graduação e que lhe fazem voltar para casa achando que todos estão errados, são incompreensíveis, intolerantes, inflexíveis e que um dia eles irão perceber que você estava certo e coerente com tudo o que você pensa e pratica na academia e fora dela. E aí você pensa: mas quando?

As aulas vão passando, as discussões continuam, mas a cada dia elas lhe causam menos arrepios e calafrios, e vão se tornando mais amenas, mais tranquilas, e você vai percebendo que cada um vai construindo suas identificações teóricas e que elas também são válidas e coerentes, mesmo que sejam diferentes das suas.

E os dias na Pós-Graduação vão se tornando mais agradáveis. Mas isso não significa que você se rendeu e desistiu de seguir e de defender suas preferências teóricas, significa que você finalmente foi percebendo que se pode ter uma tendência diferente, mas que antes de sair esbravejando que ela é a mais correta, é a mais coerente, é preciso estudar, estudar e estudar.

A partir de então, você entende que pode ir para o ringue, mas se você for com uma bagagem teórica bem estruturada, ampla, bem compreendida, e que ultrapasse o “porque eu acho”, aliado a uma capacidade satisfatória de organização e apresentação de ideias, fazendo uso de todo o seu arsenal teórico, você terá muito mais chances de sair vitorioso. E neste caso, vitorioso não significa desqualificar ou se desfazer das escolhas alheias, mas simplesmente conseguir com que a sua também seja respeitada e compreendida.