Ser mulher em qualquer contexto social não é fácil, sabemos disso desde criancinha. Mas não imaginava que ser mulher e principalmente feminista na pós-graduação me traria barreiras e entraves para o meu progresso.

Hoje lendo um texto maravilhoso de Luíse Bello no blog Cronicamente Carioca  comecei a refletir como alguns dos pontos tratados em seu texto impactam sobre o comportamento e as atitudes relativas às mulheres em relação a sua vida, sua imagem (e pasmem….) também na pós-graduação. No texto citado, a autora trabalha com a ideia do que o senso comum diz sobre as mulheres feministas serem mal amadas. Ela segue falando sobre como a mídia faz com que as mulheres somente se percebam como “bem amadas” na visão da sociedade, quando na verdade nos apresentam ao mundo com uma visão errônea sobre a mulher. Como ela deve ser, as novelas, o julgamento da sociedade no que tange sua opção sobre relacionamentos, se é solteira e quer liberdade sexual é vagabunda, se eu preservo minha sexualidade, sou puritana. Posso ser o que eu quiser! A vida é minha…e se eu for mal amada? O problema é meu….

E isso acontece em qualquer esfera social, quando eu digo que trabalho com gênero e democracia (tema geral da minha dissertação) alguns já torcem o nariz, outros logo pensam… “essa aí é daquelas feministas mal amadas”! Sim, eu sou feminista e com muito orgulho, mas não pensem que vou usar minha pesquisa para defender uma ideologia pessoal. Vou fazer trabalho empírico, sou uma cientista. Escolhi o tema porque como tudo que envolve mulheres, há poucos estudos sobre as mulheres em nível municipal. Mas não posso deixar de citar na parte teórica da minha dissertação como a dominação masculina e a estrutura tradicionalista da sociedade criam barreiras e entraves para a participação da mulher. Seja ela, política, social, profissional ou acadêmica. Hoje somos maioria esmagadora nas universidades….vocês acham que isso faz diferença?! Não como deveria, mas as mulheres buscam na hiperescolarização (conceito científico) uma forma de abrir um campo de competição profissional e acadêmico com os homens.

Este texto tá ficando muito sério…não tá a minha cara(rs)! Mas é que deu um momento de revolta!

Retomemos o pensamento para a pós-graduação, estudantes universitários possuem bolsas de estudo a mais de 50 anos, mas somente em 2013 as mulheres passaram a ter “direito a um ano adicional quando tiverem filhos. Com a medida, o CNPq assegura condições mínimas para que as mães bolsistas não interrompam suas pesquisas e atenda a demanda das pesquisadoras e de grupos envolvidos no aumento da participação das mulheres nas ciências.”(fonte: site do Cnpq). Esta resolução só saiu ano passado! Só alcançamos direitos com ideais igualitários entre homens e mulheres quando reivindicamos nossas especificidades? Até quando as minorias serão desvalorizadas?

Na área da pós-graduação esta deveria ser uma demanda discutida na implementação de um programa. Por exemplo, no Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE) da CAPES não existe orientação sobre como uma mãe pode levar sua filha(o) durante o período no exterior. E também não são todos os lugares e Universidades no exterior que fornecem bolsa para dependentes.

Ser mulher não é uma tarefa fácil, ser feminista menos ainda, inserir a maternidade no meio disso é um entrave ainda maior. Reflita sobre esta dificuldade dentro da sociedade. E perceba que ela continua dentro do seu programa de pós-graduação dificultando ainda mais a árdua tarefa de ser pós-graduanda, bolsista, mãe e feminista!