“A ciência nunca resolve um problema sem criar pelo menos outros dez.”
George Bernard Shaw

A ideia de que a investigação em ciência básica (ciência pura ou ciência fundamental) é distinta da ciência aplicada (ciência com aplicações para a sociedade e a indústria) é uma ideia completamente falsa e enganadora! Porém, o que muita gente não sabe é a diferença entre as duas. Na verdade, existem diferenças, mas as duas andam juntas e se complementam, ou melhor, não dá para fazer uma sem a outra.

Então, vamos para algumas definições: A ciência básica baseia-se na aquisição de novos conhecimentos e pelo desenvolvimento de teorias, pode-se dizer que toda pesquisa é uma ciência básica podendo gerar novas teorias. A ciência aplicada é voltada para a aplicação de conhecimentos já existentes para a aquisição de novos conhecimentos e resolução de problemas básicos. A tecnologia não é controlada pela ciência básica ou pela aplicada e sim utilizada pelas duas para facilitar a resolução de problemas práticos do cotidiano.

A ciência básica e aplicada não são separáveis, se interpenetram. Na verdade, as duas andam juntas. Foi isso que Louis Pasteur, a mais de um século atrás disse: “não há ciência aplicada, existem sim aplicações da ciência”, ou seja, há uma lógica de complementaridade entre elas. Alguns criticam a ciência básica e dizem que o que vale mesmo é a ciência aplicada, mais prática, voltada aos problemas da humanidade, porém é possível questionar o objeto de pesquisa de qualquer trabalho, bem como as suas conclusões.

A pesquisa básica nos leva a algumas reflexões, como por exemplo, talvez a principal delas é o suporte à pesquisa aplicada, pois sem a ciência básica, não existe ciência aplicada. Outra reflexão é levada mais para parte da própria essência da humanidade, tanto estética quanto espiritual, pois fazer ciência vai muito além da própria aplicação material, mas a questões que intrigam a humanidade a muito tempo, desde o início do autoquestionamento. O fato é, nenhuma sociedade moderna tornou-se desenvolvida sem investimento em ciência básica.

Muitas pesquisas que não foram levadas a sério pela sociedade no início, hoje não podemos imaginar a humanidade sem as aplicações das mesmas. Um fato interessante foi quando Faraday estava conduzindo seus experimentos com a eletricidade. Quando a eletricidade foi descoberta, reis e nobres perguntaram com ironia: “Para que serve a eletricidade?” Faraday respondeu: “Para que serve uma criança recém-nascida?” A atividade científica tem de ser feita pelo gosto que dá fazê-la. E quando as coisas são feitas com gosto, a maior parte das vezes resultam delas coisas muito úteis e interessantes. Aos olhos de alguns economistas, a ciência pode parecer um desperdício. Mas sem esse “desperdício”, não se obteriam as grandes descobertas científicas que permitem depois aplicações tecnológicas tão fundamentais para a nossa sociedade, que sem elas, está simplesmente colapsaria.

A ciência deve muito aos conhecimentos práticos e técnicos que foram desenvolvidos para suprir as necessidades humanas. Por exemplo, os conhecimentos científicos teóricos de grande generalidade sobre microbiologia desenvolvido principalmente por Pasteur surgiu de tentativas de lidar com a fermentação na indústria vinícola. Por outro lado, os conhecimentos teóricos desenvolvidos por Einstein sobre emissão estimulada contribuiu, anos mais tarde, para que fossem desenvolvidos lasers que são utilizados na medicina, metalurgia e outros. Assim, a relação entre ciência básica e aplicada não é uma via de mão única.

Tanto a pesquisa básica, como geradora de conhecimento, quanto a aplicada, como reinterpretação desse conhecimento, são igualmente importantes e necessárias para o desenvolvimento científico-tecnológico-cultural. A ciência é a liberdade de pensamento e deve estar a serviço do desenvolvimento.