Se eu pudesse voltar no tempo e dar um único conselho a mim mesma quando decidi viver dois anos para a realização de um mestrado em Portugal, seria esse: “Não se esqueça da revalidação!“. Traduzindo em miúdos: lembre-se do quão penoso, caro e burocrático é o processo de revalidar um diploma estrangeiro no Brasil, antes de sair gritando que aqui nada funciona e que a grama europeia (ou americana) é sempre mais verde.

Antes de pensar em estudar no exterior, gostaria que alguém me tivesse dito (ou melhor, de ter eu mesma pesquisado!) que, ao voltar, embora diplomada mestre, eu não poderia prestar concursos públicos (aparentemente a única forma de sobreviver decentemente para quem segue carreira acadêmica); que não há nenhuma lei que facilite os trâmites (o senador Roberto Requião está tentando, minha gente!) e que por mais que eu quisesse não dava pra botar a culpa no Ministério da Educação (MEC), pois o mesmo simplesmente se ausenta de qualquer responsabilidade nesse campo.

Também gostaria de ter levado em consideração os prazos (diga-se de passagem, estimados): entre a entrega de documentos, o início do processo e a aceitação, contemos de 6 meses a 1 ano (mas já ouvi histórias horripilantes que compreendem entre 2 a 5 anos!). Não sei quanto a vocês, mas pra mim, promessa não é dívida no meio acadêmico. E tem mais: não bastasse toda a papelada e espera, a gente ainda corre o risco de escutar um “Então, sabe o que é? Resolvemos não revalidar seu diploma porque __________________” (coloque aqui qualquer razão que pareça justificável).

Para aflorar ainda mais os nervos, o procedimento para pedir a revalidação não costuma ser lá muito claro. Ou seja, cada universidade faz do jeito que lhe convém. Não há um padrão a ser seguido, o que aumenta a dificuldade e a confusão. Como se já não fosse difícil garantir o teu lugar ao sol no mercado de trabalho, saiba que, para revalidar, a competição é igualmente grande e, em alguns casos, rola até acampamento na frente da reitoria (veja aqui)

Mas calma que nem tudo está perdido: há rumores de que a revalidação automática venha se tornar realidade em terras brasileiras, graças a uma lei aprovada pelo senador Roberto Requião, conforme citei no início do texto. A questão, no entanto, continua dividindo opiniões e causando polêmica, a começar pela recusa da CAPES em relação ao proposto.

E enquanto ninguém vence essa disputa, a gente toma um chá de cadeira e permanece em empregos medíocres ganhando menos do que merecia, aguardando uma chance do nosso esforço lá fora ser finalmente reconhecido.

Sobre a autora: pós-graduada pela Universidade de Coimbra, com um diploma de mestrado na mão e só, literalmente.