Há muito tempo me interesso pela temática da comunicação de dados científicos. A famosa expressão “publish or perish” muito foi discutida ao longo da minha graduação, tanto em tom pejorativo, quanto em tom dogmático. No entanto, a compreensão da lógica por de traz da necessidade da ampla comunicação de dados científicos entre os pares pode produzir argumentos embasados, bem como desfazer falácias frequentes (e.g., “Einstein publicou poucos trabalhos”) neste debate tão importante para o desenvolvimento científico.

Então, publicar bastante é importante? Respondam, por que eu, sinceramente, não sei.

Ciência é, prosaicamente, um método de construção e organização de conhecimento. Deste modo, após observações, elaborações de hipóteses e medições sistemáticas do conteúdo empírico, os dados devem ser adequadamente analisados para se chegar a conclusões. Porém, sem a comunicação dessas conclusões, erradas ou certas (pouco importa), elas podem ter fins trágicos. Imagine quantas conclusões significativas (socialmente, nada a ver com “0,05”) podem ter se perdido dentro de gavetas ou neurônios de cientistas que nunca tiveram a oportunidade de divulgá-las a seus colegas.

Para ajudar, imagine se as ideias de Gregor Mendel nunca fossem “redescobertas” no início do século XX (sim, pode haver outros “Mendels” anônimos por ai). Agora, imagine o oposto, conclusões equivocadas (tanto faz se por erro amostral ou por desonestidade intelectual) que são divulgadas localmente, somente para alunos, por exemplo, e sem uma adequada explicação de como foi o procedimento experimental. Como alguém poderia refutar tais conclusões a partir de réplicas do estudo em questão? Impossível, provavelmente. Talvez esses alunos, que receberam tais informações, repassem-nas adiante e assim sucessivamente. Quantos mitos “científicos” ouvimos como se fossem verdades no senso comum? E quantos destes mitos começaram assim? Não há como saber.

Com esses exemplos, vemos que sem a adequada divulgação e comunicação entre pares não se faz ciência, pela lógica, já que o conhecimento (objetivo final de qualquer estudo) não é propagado ou posto em xeque. Este, do meu ponto de vista, é o argumento central do debate “publish or perish”.

Ou seja, o número de publicações de um pesquisador deve ser igual (ou, pelo menos, proporcional) à quantidade de conhecimento gerado pelos estudos por ele executados. Nem mais, nem menos! Sempre devemos lembrar que o conhecimento é o cerne da atividade de um cientista. Assim, o debate deveria ser em torno de “produce knowledge or perish”.

Concordo com a analogia citada por muitos na defesa da quantidade de publicações: “nós, cientistas, devemos produzir, assim como sapateiros produzem sapatos”. Portanto, a quantidade é importante, sim (é para isto que os cientistas são pagos, certo?). Mas, devemos sempre lembrar que o nosso produto não são artigos, papers, manuscritos ou afins, mas sim conhecimento (produto escasso em muitas publicações, mesmo em revistas indexadas e com fator de impacto relevante).
Então, gerar bastante conhecimento (e publicá-los) é importante? Acredito, significativamente, que sim!

PS: Será que a produção em série é uma forma confiável de produzir sapatos de qualidade?

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Autores:

Ana Carolina Corrêa Tatsch – mestranda do Programa de Pós-graduação em Oceanografia Biológica da Universidade Federal do Rio Grande

João Carlos Centurion Cabral – acadêmico do Curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande