EXPECTATIVAS, substantivo feminino que desgraça qualquer relação ou situação na vida de um ser humano.

Essa devia ser a real definição do termo nos dicionários da vida.

Seria ainda melhor se pudesse ser acompanhado com um rótulo “tarja preta” ou um “use com moderação” em alguma bula.

Agora, convenhamos que ter expectativas é normal!

Inerente a condição humana, daqueles sentimentos dos quais não se foge.

Tenho cada vez mais certeza que expectativa é algo que teremos para toda a vida, mas também acredito que o sentimento só se torna um peso quando o cultivamos.

 Perceba que eu estou falando em ter e cultivar.

Ter expectativas é normal, quase instintivo, mas alimentar fantasias e especulações é outra.

Basear sua vida em um possível futuro ou ter medo de uma reprise do passado, ou ainda deixar-se alimentar por cobranças pessoais ou do meio pode ser bastante complicado em longo prazo.

A gente cria expectativa sobre a pós-graduação no momento que consideramos encarar esse desafio. E estou quase certa que esses são os anos mais ansiogênicos na carreira profissional (bom, espero).

Existe uma cobrança externa por produtividade e qualidade, interna para atingir certos objetivos.

Aliado frequentemente a medos de decepcionar o mundo inteiro, de não atingir metas, somado aos efeitos da competitividade que muitas vezes está na atmosfera dos ambientes acadêmicos.

Daí, não sei se você concorda, mas depois de um certo tempo tem um nó na sua garganta. Isso por que seja qual for a motivação que te levou ao ponto inicial. As expectativas criadas quanto ao rumo do seu trabalho, expectativas quanto a opinião/posicionamento do seu orientador, colegas, departamento, universidade, país, revistas internacionais e julgadores do Nobel (para o infinito e além), as cobranças (reais e fantasiadas) pessoais e da sua família, resultam numa avalanche. E ai o ditado “um dia casa cai”, faz sentido. Vide a quantidade de pós-graduandos que choram as pitangas em mesas de bar (ou do cafezinho), reclamam disso ou daquilo e não fazem nada para modificar sua situação, ou na melhor das hipóteses, procuram auxílio psicológico.

Isso por que a expectativa é mãe da frustração e da inércia. Simples assim. As expectativas podem baixar a produtividade, tornar os pós-graduandos inseguros e dependentes. Sem contar com a angústia e decepção que geralmente são incorporadas à rotina. O que obviamente afeta tanto o processo da pós-graduação como alcançar o objetivo final.

Ok, verdade seja dita e isso NÃO é uma generalização. Tem muita gente na pós-graduação que lida bem com as expectativas durante todo o tempo. Eles têm minha admiração e convite para dividir o segredo do sucesso. Outros, também admiráveis, aprendem a lidar, conviver ao longo dos anos com a montanha-russa interna.

E é exatamente ai que acredito que está o caminho. Saber lidar com o tempo e ter paciência, entender os mecanismos de funcionamento da ciência, alimentar a autoconfiança e reduzir a energia empregada em cultivar a expectativa é completamente possível reduzir e controlar esse sentimento. Relaxar um pouco e viver a vida fora do ambiente acadêmico pode auxiliar a perceber o real peso dos sentimentos e situações.

Bom, a má noticia é que não existe receita ou lista para não criar expectativas… Trata-se de um exercício de descoberta pessoal.  Como todo exercício requer prática e atenção, mas vale à pena. Acaba nos levando a um caminho de melhora de autoestima, superação de medos, aumento de cautela, disciplina e foco.

Mas, começar criando plantas, animais, dragões azuis ou pokemóns pode ser um começo. Crie qualquer coisa menos expectativa.