Se você já não é um velho conhecido do LaTeX, você pelo menos já ouviu falar nele em algum momento da sua pós-graduação (aqui no Pós-Graduando, por exemplo!).

Nessa hora, você se pergunta: então todo pós-graduando usa LaTeX? Eu preciso aprender LaTeX? Eu deveria estar usando LaTeX agora?

Apesar dos inúmeros benefícios, muitas pessoas têm dúvidas e resistem em adotá-lo. Em alguns casos, elas têm razão, mas em outras é pura desculpa esfarrapada mesmo. Será que você está usando alguma?

Respondemos aqui os oito pretextos mais comuns, explicando por que é melhor você aprender a usar o LaTeX – e em quais situações é melhor você não se incomodar com isso.

1. OS CÓDIGOS SÃO COMPLICADOS DEMAIS.

Tudo no LaTeX é muito lógico. Literalmente. Todas as formatações são organizadas por instruções lógicas, assim como acontece em uma linguagem de programação, por exemplo.

Aprender a lidar com os códigos exige alguma dose de abstração. A notícia boa é que eles não são tão complicados quanto você imagina.

Se você já aprendeu inglês ou qualquer língua estrangeira, certamente você já conseguiu memorizar algumas centenas ou milhares de palavras e expressões novas.

Sim, isso tudo mesmo que você não tenha toda aquela desenvoltura.

Agora pense bem: se você consegue reter tudo isso na memória, por que não conseguiria decorar um punhado de comandos de LaTeX?

Dica: Sempre deixe ao lado do computador um cartãozinho com alguns dos comandos mais importantes. É importante que não sejam muitos: entre cinco e dez é uma boa medida. Em pouco tempo, você já saberá todos de cor!

2. NÃO TENHO TEMPO PARA APRENDER TUDO ISSO.

OK, essa só vale se você já está escrevendo a dissertação ou a tese e já está vendo a luz lá no fim do túnel – seja ela a salvação final ou um trem vindo em direção contrária!

Nessa situação, acho arriscado interromper todo o fluxo mental do processo de redação do trabalho para aprender LaTeX. Então só resta respirar fundo, torcer para seu editor de texto não te sabotar e choramingar os arrependimentos de não ter conhecido o LaTeX antes.

A curva de aprendizado do LaTeX exige um pouco mais de dedicação do que apenas deslizar o dedo e apertar em ícones sobre uma tela touchscreen. Isso é verdade. Mas não é nada que você não consiga dominar dedicando alguns minutos do seu dia.

Todo pós-graduando tem a agenda cheia com toneladas de leituras, fichamentos, resenhas, congressos, simpósios e publicações a preparar. É tanta coisa que começamos a chorar sangue só de pensar em colocar mais uma tarefa na lista!

Mas preste bem atenção no seu dia e veja se vocẽ não está desperdiçando muito tempo com aquele site de manchetes bombásticas, vídeos de gatinhos fofuchos ou simpelsmente …. procrastinando.

Dica: Reveja seu calendário semanal e verifique se você não consegue tirar três horas na semana para aprender LaTeX – digamos, às segundas, quartas e sextas-feiras, depois da sua sessão de estudos intensos.

3. NUNCA MAIS VOU USAR ISSO.

Esse argumento é mais aceitável para quem faz pós-graduação lato senso e não tem planos de continuar nos caminhos da pesquisa.

Nesse caso, faz mais sentido concentrar todas as energias em outros aspectos: coleta de dados, preparação do texto, levantamento bibliográfico, divulgação em eventos – opções não faltam.

Mas se você pretende abraçar a carreira acadêmica, aprender LaTeX é um investimento de tempo e energia valioso a longo prazo que você deve levar a sério.

Isso irá te poupar de muitos apuros desnecessários no futuro, à medida que você precisa trabalhar com publicações em série e em maior número ao longo de seu percurso acadêmico.

E para isso dar certo, é importante que o seu trabalho esteja preparado em um ambiente estável e confiável.

Vamos propor uma reflexão simples. Faça uma breve retrospectiva e tente se lembrar de todas as versões do MS Word já lançadas até hoje.

Se você não conseguir mentalizar as diferenças, a gente te dá uma ajudinha aqui.

Agora imagine o desespero de um pesquisador que suou litros de sangue para escrever sua tese em uma versão do programa e vê seu trabalho se desfigurando lentamente a cada nova versão lançada.

Triste, não é?

Dica: Dominar os fundamentos leva tempo no começo. Mas, a longo prazo, os benefícios são bem compensadores.

4. POSSO FAZER TUDO NO WORD.

Isso se aplica a pesquisas em áreas mais centradas no texto propriamente dito. Ainda assim, vale a pena repensar o uso do LaTeX. Mesmo as pesquisas nas áreas mais tradicionais podem se beneficiar.

Por exemplo, latinistas, helenistas, historiadores e estudiosos de Antiguidade Clássica em geral podem poupar muita dor de cabeça na hora de nomear conceitos usando os caracteres gregos e latinos. O mesmo também vale para o uso de caracteres especiais em transcrição de entrevistas, algo muito comum em ciências sociais e educação.

A filosofia do LaTeX pode ser resumida assim: quanto mais complexa a tarefa, melhor.

Para tarefas mais simples, não é necessário recorrer a uma ferramenta tão robusta.

Mesmo assim, é interessante repensar seu trabalho em todos os aspectos milimétricos e reavaliar se um desses passos não pode se beneficiar do refinamento do LaTeX.

Dica: Abra todos os menus do Word. Se você consegue prever o comportamento de todos os comandos listados, então você está livre de usar o LaTeX. Caso contrário, você é uma vítima vulnerável de “erros” inexplicáveis e é melhor ir se abrigar no LaTeX.

5. NÃO CONHEÇO NINGUÉM QUE SABE LaTeX.

Tem certeza?

Faça uma sondagem preliminar com seus colegas de pós, inclusive de outras áreas fora da sua. Você pode descobrir algum expert mais próximo do que você imagina.

Caso não encontre ninguém, procure alguém na internet que possa te ajudar.

Existem por aí muitas comunidades, fóruns e tutoriais sobre o assunto. A maioria esmagadora do material está em inglês, mas também existem fontes excelentes em português.

Talvez você se sinta estranho porque ninguém no seu grupo de estudos usa o LaTeX. Não se preocupe. A depender da área, é normal esse sentimento de “estar dançando sozinho”. O que não significa que você não possa tomar a iniciativa e começar a espalhar a novidade no seu círculo de colegas da pós.

Se vocês combinarem de aprender o LaTeX junto, o desgaste dos momentos iniciais é menor. Um pode ajudar o outro e ninguém fica com aquela sensação esquisita de “só eu uso LaTeX e mais ninguém?”.

Dica: Combine com seus colegas um intensivão de estudos coletivos de LaTeX. Estipulem um objetivo de aprendizado para todo mundo, por exemplo: “Todo mundo já consegue organizar capítulos, seções e subseções”. Levem salgadinhos e refrigerante junto com o laptop. Em grupo, tudo pode ficar menos doloroso e mais divertido.

6. MEU ORIENTADOR NÃO SABE LaTeX.

Ok, esse argumento é um pouco mais delicado.

Pode parecer algo banal, mas muitos orientadores da velha guarda também não sabem manusear um arquivo .tex e nem mesmo comentar sobre um arquivo .pdf.

O fato é que professores mais velhos fizeram a maior parte de sua carreira acadêmica sem essas ferramentas e não têm a menor pretensão de perder tempo com elas agora.

Mesmo assim, aprender LaTeX não deixa de ser uma boa ideia, mas você corre o risco de ficar malabarizando formatos de arquivo a cada revisão de seu orientador.

Dica: se você tiver muita intimidade com seu orientador, ensine-o a usar LaTeX. De todo modo, você sempre tem a opção de enviar arquivos pdf ou uma (bela) versão impressa do texto.

7. MEU COMPUTADOR “NÃO TEM” LaTeX.

A novidade é: nenhum computador “vem” com LaTeX.

Muita gente não usa LaTeX simplesmente porque o MS Word (ou o Pages qualquer correspondente) já vem instalado no computador.

Diversas pesquisas em interface de usuário e comportamento do consumidor já mostraram que a maioria esmagadora das pessoas não estão dispostas a ir além do default – isto é, das configurações pré-dadas em um determinado contexto.

Isso se aplica para uma série de cenários, desde configurações de privacidade em redes sociais e tipografia em editores de texto até à escolha de uma prato em um restaurante.

É claro que o LaTeX não escapou dessa.

Dica: Deixe a preguiça de lado. Instale os pacotes, escolha um bom editor e mãos à obra! Dê esse passo a mais e você vai descobrir um novo universo.

8. NÃO TENHO ACESSO A NENHUM CURSO DE LaTeX.

É, provavelmente não.

A oferta de cursos convencionais de LaTeX é escassa. O lado positivo é que a internet está entupida de material de referência para estudo.

Os fóruns são excelenetes para tirar dúvidas, já que sempre existe alguém que já teve a mesma dúvida que você. Também há apostilas, e-books e video-tutoriais aos montes.

Boa parte dos avanços com a ferramenta vem de persistência e dedicação autodidata.

Por um lado, isso exige mais energia de você. Por outro lado, você está livre para aproveitar a infinidade de fontes disponíveis por aí e experimentar tudo ao seu próprio ritmo, sem grandes preocupações em seguir um padrão pré-estabelecido.

Dica: Você é um pesquisador. Você naturalmente sabe explorar territórios desconhecidos sem guias paternalistas. Exerça seus talentos de pesquisa e sua independência intelectual também nesse momento.

RESPOSTA FINAL

Como comentamos no início, a difusão do LaTeX varia muito de área para área e mesmo de instituição para instituição. Em alguns casos, ele é um pressuposto indispensável. Em outros, quase ninguém conhece.

Existem situações em que você não precisa de fato aprender LaTeX e, no final das contas, é só você quem pode dar a palavra final sobre isso. De todo modo, certifique-se que você tem motivos realmente bons para isso e não está apenas se valendo de desculpas frouxas recheadas de auto-piedade e preguiça.

Talvez você não seja obrigado a usar o LaTeX. Mas é interessante saber utilizá-lo e ter a possibilidade de escolha.

Não se intimide. Comece com passos pequenos, dê um passo a cada dia e – acima de tudo – abandone as desculpas esfarrapadas.