Todo trabalho acadêmico deve passar pela definição do modelo que será utilizado para sua elaboração, a sua “roupagem”.

Duas formas tem se destacado atualmente: a tradicional, ou monográfica, e o modelo de escrita por artigos, também denominado de “escandinavo”.

Não existe um melhor que o outro, mas é fundamental saber das potencialidades e limitações de cada um, pois isso impacta diretamente no desenvolvimento da tese.

MODELO TRADICIONAL
É o que se constituiu como a maneira mais tradicional de desenvolvimento de um trabalho de origem monográfica, vinculando-se à sua extensão. Vale a máxima: “se o trabalho conseguir ficar em pé, então é uma tese que se preze”. É utilizado em uma grande quantidade de cursos de pós-graduação no Brasil.

Potencialidades
• Sem “neura” com número de caracteres, permite discorrer sobre um assunto de modo mais aprofundado, investigando a fundo um dado tema.
• Permite certa “liberdade” de criação dos capítulos e subcapítulos e não fica preso às “amarras” das diretrizes dos periódicos.
• É o mais comum em programas de pós-graduação e muitos orientadores não concebem desenvolver uma tese de outra forma.

Fragilidades
• Risco dos dados serem pouco divulgados, servindo de alimento para traças e ocupando espaço nas prateleiras das universidades. Por mais estranho que possa parecer, não são poucos os trabalhos que jamais serão publicados.
• Entre o processo de escrita de uma tese e sua transformação em artigos há um tempo considerável que pode tornar os dados obsoletos.
• Corre o risco de tornar-se enfadonho e muito cansativo, dependendo do tema e da forma de escrita.
• Pode não contemplar todas as áreas do conhecimento que, devido às suas especificidades, necessitam de outros arquétipos.

MODELO ESCANDINAVO
Preconiza a produção de um ou mais artigos, ou seja, normalmente após a introdução e a apresentação de hipóteses e dos objetivos, há uma sequência de artigos escritos que são desmembrados do problema de pesquisa. Em alguns casos este modelo apresenta-se apenas para os resultados e discussão dos dados, ficando a parte da revisão arraigada ao modelo tradicional. Vale a pergunta: “quando foi a última vez que você leu completamente uma tese inteira?

Potencialidades
• Agilidade na publicação dos dados, ou seja, a produção do conhecimento torna-se mais rápida.
• Permite uma ampliação da produtividade a medida que uma tese pode gerar o fruto de diversos artigos.
• Tende a possibilitar que a escrita vá “direto ao ponto”, pois assemelha-se à artigos científicos, o que pode facilitar a leitura.
• Facilita a submissão dos artigos, pois eles já estão de acordo com as diretrizes das revistas.

Fragilidades
• Possiblidade de “salamear” o trabalho, ou seja, dividi-lo em diversos artigos simplesmente para ampliação da produção de modo quantitativo.
• Dificuldade na escrita, pois redigir introdução, métodos, discussões e conclusões para cada artigo é desgastante.
• Corre-se um risco óbvio de autoplágio, o que a ciência tem criticado.
• A construção das sessões deve ser diferente para cada artigo, o que exige grande habilidade científica.
• É comum chegar para a defesa com ao menos uma parte dos artigos submetidos ou até mesmo publicados. Nesse cenário, qual será de fato o papel da banca? Suponhamos que sejam apresentados 5 artigos na tese e que todos já estejam publicados. Como a banca deveria se posicionar neste sentido?

PARA ALÉM DO “ISTO OU AQUILO”
Tamanho não é documento. O que existe são formas que mais se adaptam ao objeto de estudo, tema e área de conhecimento. A hipervalorização de “papers” pode evocar que o modelo escandinavo é a solução para as intempéries da pós-graduação. O modelo tradicional pode também ser de pouco valia para alguns. Adequações com as normas do programa, com o orientador e também com a banca podem auxiliar. De qualquer forma, a publicação dos dados é fundamental e deve ser o foco independente do modelo adotado, uma vez que a produção (e divulgação) do conhecimento é o principal vetor da ciência para o desenvolvimento da sociedade.

Texto escrito por Luiz Gustavo Bonatto Rufino, formado em Educação Física, mestre em Desenvolvimento Humano e Tecnologias e doutorando em Ciências da Motricidade. Já vivenciou o dilema da escolha do modelo para a tese diversas vezes, razão pela qual escreveu o presente texto.