Você já ouviu falar do Scrivener?

Quantos documentos e pastas você tem relacionados a sua pós-graduação? Imagino que eu não seja a única que tenha chegado a um ponto em que tive tantos arquivos sobre minha dissertação que com frequência eu mesma me perdia naquele emaranhado de fichamentos e anotações.

Quem nunca perdeu “aquela-citação-genial-que-eu-precisava-exatamente-aqui” não sabe o que é desespero… Isso sem falar do pesadelo que é escrever com tantas janelas abertas, indo e vindo entre documentos e a confusão que é navegar no texto com tantos pagedowns.

Então, para a minha surpresa, descobri que existe uma forma mais inteligente de gerir o processo de escrita.

No meu caso, foi através do Scrivener, que é um processador de texto especialmente criado para autores, de ficção ou não, que lidam com longos textos.

Para isso, ele dá ênfase ao processo criativo da escrita, que é muito mais não-linear do que imaginamos antes de começar nossa empreitada na pós-graduação. O programa tem uma série de funcionalidades de fácil uso, que fazem com ele se adapte ao usuário e suas necessidades.

Dentre tantas, vou elencar aqui as que são mais úteis para mim, de acordo com a forma com que eu trabalho. Sabemos que não existe um fluxo de trabalho correto, ou essencialmente melhor do que os outros: cada um precisa encontrar sua própria maneira! Mesmo assim, tenho certeza de que o programa pode ajudar a todos, graduandos, mestrandos, doutorandos e professores.

1. Tenha todos seus arquivos em um só local

A primeira grande vantagem do Scrivener é a função do “fichário”, ou o binder, que organiza seus diversos documentos. Nele, os arquivos são separados em “pesquisa” e “rascunho”.

No primeiro, como o nome diz, você coloca todo seu material de pesquisa: fichamentos, anotações, figuras, gráficos, páginas da internet e pdfs. Tudo isto fica à vista e organizado da maneira que você quiser, em pastas ou não e na ordem que você achar melhor.

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Como sou de humanidades, preciso ler muito e fazer fichamentos de um grande material bibliográfico. Então na sessão de “pesquisa” vou colocando notas de tudo que leio, de acordo com temas e autores, e assim sei bem o que já li e me sinto mais segura quanto ao andamento da pesquisa.

Já na sessão “rascunho” fica seu texto de fato que, novamente, pode ser organizado como você preferir: em capítulos, em conceitos ou como quiser. Você pode criar, separar e reunir os tópicos facilmente e pode, inclusive, criar antes e escrever depois ou escrever antes e categorizar depois, você quem sabe.

Para mim, só por isso o Scrivener já vale a pena, pois assim todo seu trabalho está no mesmo local, à vista e ao alcance de um clique, então chega de pagedowns do Word.

2. Visualize tudo com o quadro de cortiça e o esquema de tópicos

Estas duas funções quebram o maior galho. Sabe os tópicos do fichário que eu falei? Eles podem ser vistos como fichas em um quadro de cortiça com o “corkboard” ou como um esquema de tópicos no “outline”.

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No quadro, você consegue brincar com as fichas de um lugar para o outro e fazer anotações sobre o conteúdo dela, com um resumo ou próximos passos.

Já no esquema de tópicos você vê linearmente os arquivos, também com as anotações que no quadro aparecem nas fichas. Pessoalmente, eu uso muito esta função para acompanhar o andamento da pesquisa.

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Com ela eu vejo de forma global a dissertação, faço anotações de próximos passos, categorizo autores e, assim, não me sinto mais “perdida” em meio a dissertação. Posso me desesperar, mas não mais me perder!

3. Categorize sua produção com status e categorias

Tanto no quadro quanto no esquema você tem a possibilidade de etiquetar os tópicos de acordo com o status dele – a fazer, primeiro rascunho, pronto e o que mais você quiser – e a função dele no texto – capítulo, tópico, conceito…

Pode parecer simples, mas isto ajuda um bocado o controle do andamento do seu trabalho.

4. Edite dois textos ao mesmo tempo com a repartição de tela

Esta função é ótima para o momento de escrita. Agora que todo seu material está em um único programa, você pode dividir a tela, verticalmente ou horizontalmente, e visualizar ao mesmo tempo dois conteúdos.

Você está escrevendo um capítulo e está utilizando um fichamento? Ou está escrevendo a conclusão e precisa da introdução para comparar? Sem problemas, divida a tela e tenha os dois em edição ao mesmo tempo.

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5. Encontre facilmente o que precisa com a função de pesquisa

Caso você esqueça quem foi o autor ou em qual livro você leu um determinado assunto, agora que todas suas anotações estão no mesmo local, com a função de pesquisa você pode rapidamente recuperar fichamentos antigos e encontrar o que precisa sem demora.

6) Compile o texto e exporte no formato que precisar

Se você precisar enviar uma parte do texto para seu orientador, ou enviar um artigo para um congresso, com a função de compilamento você pode reunir os tópicos que precisa e editar facilmente a formatação do texto ao final, sem se preocupar com isso ao longo do texto e sem o Word acabar com tudo que você já formatou.

Para fazer o download do programa vá até o site www.literatureandlatte.com/scrivener.php.

Apesar de a licença ser paga (US$40,00), com tudo que o programa oferece e o quanto ele facilita a pesquisa, vale a pena. Além disso, eles oferecem 30 dias não consecutivos de teste, o que dá tempo suficiente para você se apaixonar, abandonar o Word e se decidir…

Além destas funções, o Scrivener tem muitas outras, que podem ser exploradas com o auxílio de um vasto conjunto de tutoriais disponíveis no site oficial ou em diversos blogs e vídeos no youtube. Pessoalmente, o programa melhorou, e muito, minha organização e produtividade e me deixou mais confiante quanto ao domínio do meu trabalho, dando um pouco de ordem ao caos que é essa nossa vida de pós-graduando.

Texto escrito por Marina Avelar, pedagoga e mestranda em Políticas Educacionais na UNICAMP. Realizou intercâmbios acadêmicos com as universidades de Lund (Suécia) e de Londres (UK), no Institute of Education, no qual iniciará seu doutorado em outubro.