Atualmente, o mestrado e/ou doutorado são requisitos básicos exigidos em qualquer concurso público para professor universitário. E não é à toa. A formação de professores universitários é um dos objetivos da pós-graduação stricto sensu. Entretanto, o mestrado e o doutorado realmente capacitam os pós-graduandos para a docência no ensino superior?

Bom, que atire a primeira pedra quem nunca teve um professor que era “autoridade” em determinada área, mas que dava aulas chatíssimas, em que você pensava sobre tudo, menos na matéria em questão. Existe uma diferença enorme entre saber o quê ensinar e saber como ensinar. E, em muitos casos, a pós-graduação stricto sensu tem negligenciado solenemente a didática do ensino superior.

Métodos de ensino e avaliação, plano de aula, projeto pedagógico são termos pouco discutidos nos programas de pós-graduação pelo país afora. Após a aprovação em um concurso, os professores recém-contratados são obrigados a aprender por “tentativa e erro” a controlar, motivar e ensinar turmas com às vezes mais de 90 alunos ou então procurar uma especialização lato sensu em didática do ensino superior, com o intuito de suprir essa carência.

Antes que você se contorça na cadeira, quero deixar claro que existem exceções: alguns poucos bem-aventurados programas de pós-graduação ainda possuem esse enfoque. E se você faz parte de um desses, agradeça aos céus. Existem também os programas de pós-graduação em educação e pedagogia, onde a pegada é diferente.

Mas na grande maioria dos programas de pós-graduação, e aqui se destacam aqueles das chamadas ciências “duras”, todo o preparo de um professor universitário resume-se a uma ou duas disciplinas de estágio docência, em que o pós-graduando prepara algumas aulas da disciplina do seu orientador na graduação e aos seminários apresentados durante as disciplinas.

Nos últimos 30 anos, ignorou-se no Brasil o que ocorria nos países mais avançados (Grã Bretanha, Austrália, França e Estados Unidos) com relação às exigências para ser um professor universitário. Embora variando nas estratégias adotadas, esses países destacaram-se em enfatizar a importância da didática e pedagogia, para que um professor universitário fosse eficaz no seu desempenho.

Para finalizar, gostaria de destacar duas causas para a falta de discussão sobre docência na pós-graduação stricto sensu, embora faça parte da sua missão e dos regulamentos de quase todos os programas. O primeiro deles é que a atual geração de professores da pós-graduação também teve pouca formação em didática do ensino superior. Muitos deles começaram a dar aulas apenas com o título de bacharel e tiveram que aprender na marra na prática a se virar em uma sala de aula. Assim, em um programa de pós-graduação formado por professores que não tiveram essa base, fica difícil cobrar esse enfoque.

O segundo motivo é a pressão por publicações, patentes e derivados em que os programas de pós-graduação estão mergulhados até o pescoço. As bolsas, o conceito e o prestígio dos programas estão intimamente relacionados com a sua capacidade de produzir [e publicar] pesquisa. Portanto, a menos que didática e pedagogia possam ser objetos de pesquisa na sua pós-graduação, esses temas tendem a ser deixados em segundo plano. Às vezes, nem isso.