Em julho de 2010, o CNPq e a Capes, órgãos que oferecem bolsas de estudo a alunos de pós-graduação, publicaram uma portaria conjunta autorizando o acúmulo de bolsas de pós-graduação com rendimentos de atividades remuneradas, desde que estas atividades estejam relacionadas à área de pesquisa do estudante e sejam de interesse para a sua formação profissional.

Após a publicação desta portaria, outros órgãos de fomento estaduais, como o Fundect, também alinharam suas diretrizes nesse sentido, permitindo que alunos de mestrado e doutorado pudessem dar aulas ou exercer atividades profissionais que estejam dentro da sua linha de pesquisa.

Essa é uma questão bastante polêmica. Muitos professores e alunos de pós-graduação argumentam que alunos que se dedicam exclusivamente à pós-graduação produzem mais pesquisas (e mais artigos) do que os alunos que precisam dividir seu tempo entre a pesquisa e o ensino.

Nesse sentido, os alunos de pós-graduação são incentivados pela maioria dos programas de pós-graduação (e pela maioria dos orientadores) a maximizar sua participação em pesquisas e minimizar suas atividades de ensino.

Pois um artigo publicado na revista Science (19/08/11) discute exatamente esta questão ensino/pesquisa entre alunos de pós-graduação de várias universidades nos Estados Unidos. Os autores avaliaram os projetos de pesquisa dos alunos de pós-graduação em ciência, tecnologia, engenharia e matemática em dois momentos: no ingresso do curso de pós-graduação e no final do primeiro ano letivo.

Os estudantes foram divididos em dois grupos, um grupo em que os alunos iriam se dedicar exclusivamente à pesquisa e outro grupo em que os alunos iriam se dedicar ao ensino e à pesquisa. Como resultado, os autores observaram que os estudantes de pós-graduação que trabalhavam com ensino e pesquisa demonstraram melhora significativa em suas habilidades para gerar hipóteses e realizar experimentos.

Assim, os autores concluíram “que a experiência de ensino pode contribuir substancialmente para a melhoria das competências fundamentais da pesquisa”.

Como aluno de pós-graduação que também atua no ensino, confesso que não fiquei surpreso com as conclusões do referido artigo. Quando a Capes publicou a portaria autorizando os bolsistas a acumularem bolsa e vínculo empregatício, no dia seguinte eu já estava distribuindo currículos. E consegui um emprego como professor universitário na disciplina que estudo na minha tese.

Sobre minha dedicação à pós-graduação e ao ensino, não há como negar que se me dedicasse apenas ao doutorado minha produção científica teria sido muito maior. Não tenho dúvida alguma que teria realizado mais experimentos, publicado mais artigos e um Currículo Lattes mais recheado.

Trabalhar como professor consome um tempo maior do que apenas aquele gasto em sala de aula. Existe uma infinidade de atividades burocráticas, de orientação, de preparo de aulas e de materiais que diminuem, em muito, o tempo disponível para a pesquisa e para a redação de artigos.

Entretanto, a diferença que existe entre a qualidade do meu projeto inicial de doutorado e a tese que estou escrevendo é gritante. E as várias modificações que fiz na minha pesquisa ao longo do curso (e que aprofundaram os questionamentos do meu projeto inicial) se devem a minha atividade como professor.

Preparar aulas exige um estudo maior do que para apenas fazer uma prova. É preciso conhecer o conteúdo todo, pensar em como transmiti-lo de forma didática e prática, explorar suas aplicações e se preparar para as perguntas dos alunos. E alguns questionamentos dos alunos são verdadeiros desafios.

No final, essa discussão acaba caindo naquele velho debate sobre quantidade vs qualidade, que já fizemos várias vezes aqui no site. De minha parte, estou muito feliz com a minha escolha em lecionar, pois sempre fui daqueles teimosos que preferem a qualidade.